quarta-feira, 21 de maio de 2014

Superman e Spider-Man - Em Busca dos Personagens Perdidos

Personagens são criados em um tempo específico, em um espírito que representa sua época específica. O homem cria o que o representa dentro de sua realidade e de seu tempo. Mesmo histórias futuristas representam o que esperamos, queremos e prevemos do futuro com base no tempo em que vivemos. Em alguns momentos criamos o futuro de forma positiva, em outros de forma negativa... O futuro positivo de Star Trek criado em 1966, é bem diferente dos futuros pessimistas de Mad Max, Fuga de Nova Iorque ou Blade Runner, criados na década de 1980 (na verdade o primeiro Mad Max é de 1979, mas Mad Max 2 –The Road Warrior -1981- é que ditou mesmo a estética do personagem e de seu universo pós-apocalíptico). A década de 1980 via o futuro como algo perturbador... ninguém acreditava que a tal “experiência humana” pudesse resultar em algo brilhante, positivo.. Por isso os Mad Max e os Robocops da vida.. porque esse era o espírito da época.

Superman foi criado em uma época especifica e representava o espírito dessa época. O mesmo aconteceu com Spider-Man. Eles representam o espírito de sua época... Superman é o deus, Spider-Man é o semideus.. Não estou fazendo essa comparação pelo contraste de que um é bem mais poderoso do que o outro, mas sim porque um era mais humano do que o outro.

Quando Superman foi criado, sua estrutura de personalidade era rasa, superficial. Ele era um cara poderoso que trabalhar em um jornal e se tornava Superman, combatia o mal, vencia, e a história acabava. As histórias eram simples, também rasas, sem profundidade. O personagem tinha uma profundidade e um simbolismo que talvez nem mesmo seus criadores haviam percebido de forma consciente. Muitos dos símbolos e signos importantes para a construção da mitologia do Superman já estavam lá... As metáforas e tudo mais, mas na minha opinião, os autores fizeram isso de forma inconsciente e, por isso, não conseguiam explorar essas metáforas de uma forma bacana. Superman foi criado em uma América diferente, brilhante, esperançosa, que ainda acreditava na perfeição, na pureza dos conceitos do que era ser americano.. era um conceito tão inatingível em um mundo real quanto ser o super-homem. Spider-Man veio em um momento diferente, de buscar quem eles realmente são... De descrença, de dúvida... Não tem nada menos perfeito que o ser humano, por isso essa nova era dos deuses, o semi-deus é mais humano. Peter Parker era imperfeito, em um mundo imperfeito. Este personagem foi criado assim, um cara bom, cheio de boas intenções, mas cercado por uma realidade difícil e tendo que lidar com quem ele é. Todo mundo que passava por aquelas coisas sabiam como era ser o Peter Parker. Superman era algo distante, um deus, vivendo acima, de alguma maneira.

Uma das coisas interessante sobre o Peter Parker, é que amigos meus, que liam suas HQs, tinham visões diferentes sobre os aspectos psicológicos do personagem.. e isso sempre me deixou intrigado. Você nunca sabia qual era a máscara do Peter Parker... Se ele era o Spider-Man escondido no Peter Parker ou se ele era o Peter Parker podendo ser o que realmente é atrás da máscara do Spider-Man... Ou isso tudo era a mesma coisa?

Em paralelo, um dos momentos mais importantes do Superman para mim, e que aparece no primeiro filme (do diretor Richard Donner), é quando o pai dele, Jonathan Kent, morre de um ataque cardíaco. O peso disso para o personagem... todos aqueles poderes e mesmo assim, não pode fazer nada. Isso o limitava, o aproximava da tal “condição humana”, da inevitabilidade da vida, da sensação de que, por mais poderoso que você seja, existem muitas coisas na vida sobre as quais você não tem controle... Mesmo o Superman. E é por isso que ele, quando vê que pode mudar a história, “volta no tempo” para salvar a vida de Lois Lane.. A pergunta que eu sempre me fazia era: porque ele não volta para salvar a vida do pai? Não saber responder isso até hoje é uma das coisas que eu mais gosto naquele filme. Porque isso me faz ver que existem coisas naquele personagem que ainda não conhecemos. Não quero que isso fique explicado. Não quero saber qual a máscara que Peter ou o Spider-Man usa... Nem quero saber se Superman é um homem que busca sua humanidade, se ele representa o que há de bom na humanidade, ou assume que para ser melhor ele deve ser maior que sua própria humanidade... e seria isso uma crítica ou um elogia à condição humana?

Nos últimos anos temos visto tentativas de atualização desses dois personagens. É engraçado como podemos nos importar tanto com isso... sabemos que são apenas personagens de gibi e que existem coisas importantes acontecendo no mundo. Não importa. A gente gosta mesmo assim. E de uma maneira ou de outra, gostamos desses personagens porque eles nos dizem alguma coisa. Principalmente para nós que gostamos de contar histórias. Aprendemos a contar histórias lendo esses mesmos personagens. Óbvio que estas histórias nos inspiraram a querer fazer o mesmo que os caras que as criaram.

Agora, como gosto de escrever e de criar histórias, fico me imaginando no papel de um roteirista que é contratado para atualizar um personagem desses... esse produto. E sempre imagino esses produtores de cinema e editores de gibis meio desesperados. Primeiro porque achar que o personagem deve ser atualizado vem, na minha concepção, da percepção de que esse personagem já não representa seu tempo. Quando um diretor ou editor chegam à conclusão de que seu personagem não funciona, então a coisa se complica.

Os editores e produtores precisam fazer esses personagens funcionarem, porque eles, os personagens, representam investimentos gigantescos. São (como já disse) produtos. E, apesar de sentirem que esses personagens, em suas versões originais, já não alcançam o publico de hoje, eles tem potencial para isso... Desde que mudem.

Na maioria das vezes a coisa toda desaba... Porque você desestrutura o esqueleto do que é ser esse personagem em sua essência... dar uma nova roupagem a um conceito antigo, na maioria das vezes “esbarra” em mudar o conceito original, o espírito, para se adaptar a uma nova época e realidade e, nesse caminho, você perde o personagem original, o que ele representava na época em que foi criado, porque agora, ele precisa representar outra coisa.

Spider-Man e Peter Parker são dois personagens diferentes embora sejam o mesmo. Neste novo filme, The Amazing Spider-Man 2, assim como no primeiro filme desse reboot, eles perderam os personagens... Spider-Man não está lá... Peter Parker, não está lá. Para adaptar o personagem a essa nova época, Peter Parker e Spider-Man são exatamente a mesma pessoa, na minha opinião. A máscara não importa, ela perdeu seu significado metafórico. Por isso, não há nem Peter Parker e nem Spider-Man, porque o que define os dois são justamente as diferenças entre eles, dentro de uma só pessoa.  

Assim como o Superman de Man of Steel.

Na minha opinião, esse tipo de atualização dos personagens para uma nova época, um novo publico, passa por tentar impressionar e agradar o publico. Mas eles não entendem a historia que querem contar, nem seus significados... Eles perdem os personagens e o centro de suas mitologias. No fundo eles tentam trazer esses conceitos de volta porque acham que estes conceitos são importantes, mas ao mesmo tempo sentem que estes personagens estão ultrapassados como símbolos desses conceitos... ou os conceitos estão ultrapassados... então tentam pegar os mesmos personagens que representam conceitos antigos e dar a eles um novo conceito.. não sei.  

O engraçado é que o ego desses editores e produtores é tão grande, que eles acham mesmo que conseguem atualizar esses conceitos e personagens!


Sabe o que é engraçado? Muitas pessoas mais novas, que nunca leram os gibis antigos do Spider-Man, ou do Superman, gostaram destes novos filmes. Claro que algumas não gostaram... Tudo bem.. Mas a maioria com quem eu conversei gostou. O que isso significa? Que esses editores e produtores conseguiram fazer com que estes personagens encontrem eco com essas novas gerações? Talvez. Na minha opinião nem tanto.. Porque, pra mim, esses não são os mesmos personagens. São outros personagens. Isso é ruim? Não sei... Não encontrei os personagens que eu conheço nos cinemas, mas talvez isso não seja tão ruim.

Talvez seja isso o que significa “atualizar” os personagens... Mudar. Talvez esse seja o espírito dessa época.. Peter Parker é um personagem difícil hoje em dia... Com quem ninguém quer se relacionar. E filmes devem mostrar personagens com quem você se relaciona. Mas parece que agora os filmes devem dar a você personagens que você quer ser, e não que você é. Peter Parker/Spider-Man é um garoto que se esconde atrás de uma máscara.. talvez como os garotos que se escondem atrás de um perfil de facebook... Este novo Peter Parker é cheio de trejeitos, tenta ser “estranho”, “cool”.. Como todo mundo hoje deveria ser porque o importante hoje, é ser cool... Porque os garotos de hoje não conseguem se relacionar com o Peter Parker bom, tímido, que não consegue se dá bem com pessoas... Eles querem ser garotos revoltados, “estranhos” e “cool”. Tentar impressionar, agradar sem entender a história que se quer contar... Talvez seja mesmo esse o espírito dessa época.

   


Superman e Spider-Man - Em Busca dos Personagens Perdidos

Spider-Man

 Spider-Man - Em Busca dos Personagens Perdidos

Superman

Superman e Spider-Man

Superman  Em Busca dos Personagens Perdidos

Superman  Spider-Man - Em Busca dos Personagens Perdidos

 Em Busca dos Personagens Perdidos



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