quinta-feira, 8 de junho de 2000

Condição Crítica - Texto # 02 por Alexandre Maki - 08/06/2011



(Aviso: os nomes dos personagens nesta crítica são os originais em Inglês. Como não li os quadrinhos em Português, não faço idéia de como são chamados por aqui).

Apesar de ter o mesmo título, X-Men: First Class não é uma adaptação da série em quadrinhos homônima escrita por Jeff Parker com arte de Roger Cruz (mais Julia Bax, Amilcar Pinna e outros). A trama é inspirada em e faz alusão a várias histórias dos mutantes na Marvel mas não trata de nenhuma em específico e até inventa muitos situações. Assim mostra-se coisas de formas diferentes, equipes que nunca existiram e personagens um pouco alterados ou fora da ordem cronologia original.

Como é um prequel não é necessário conhecimento prévio. Mas se assistiu aos outros filmes e, principalmente, se leu os quadrinhos há várias surpresas.

O filme é divertido mas quem acompanha notícias sobre quadrinhos e cinema sabe que ele foi feito às pressas (só foi oficialmente finalizado há duas semanas, acredite ou não). E o resultado disso pode ser visto em vários aspectos como uma certa falta de coesão na trama. Há vários elementos (divertidos e bacanas) mas muitas vezes parece mais uma colcha de retalhos, como se tentassem na edição juntar tudo isso num todo coerente. Não há nada horrível ou extremamente ruim, é mais uma impressão mesmo.

O primeiro ato é um pouco longo com exposição demais e as coisas demoram um pouco a acontecer.

No segundo ato, ao contrário, as coisas parecem acontecer rápido demais. Introdução de muitos personagens, mais exposição. As cenas de treinamento foram algumas das melhores partes e a edição deu-lhes um bom ritmo mas ainda assim tudo parece apressado.

O terceiro ato é um pouco confuso. Com tantos navios e mutantes pra lá e pra cá muitas vezes é difícil saber quem está onde fazendo o que com quem (isso sem contar as frotas navais). Mas as tramas principais têm uma resolução satisfatória e você sente que deixaram soltas as pontas certas para os filmes que já foram feitos e outros que poderão ser realizados.

A direção de Matthew Vaughn foi acertada e temos que bater palmas pelo que ele conseguiu em tão pouco tempo e com tanta pressão.

Há certa controvérsia sobre quem realmente escreveu o roteiro (ou parte dele) mas ao espectador isso nem interessa tanto.

Breve entrevista com o diretor Matthew Vaughn:



Nos quadrinhos, a equipe original era formada por Cyclops, Jean Grey, Angel, Beast, e Iceman comandados pelo Professor X.

Arte de Roger Cruz:


(clique para ampliar)

No filme temos Professor X, Magneto, Mystique, Moira MacTaggert, Beast, Angel (Salvadore), Banshee, Havok e Darwin. E os vilões Sebastian Shaw, Emma Frost, Azazel e Riptide.

O elenco apresenta os personagens:



Charles Xavier, neste ponto, é um homem bem diferente daquilo que esperamos do Professor X. Mulherengo, beberrão, egoísta. Além disso, James McAvoy fez muito bem em não fazer uma imitação de Patrick Stewart. Ele mostra com uma ótima performance um personagem que cresce, amadurece e que aos poucos adquire a determinação, seriedade e ideologia que todos conhecem.

Mas o verdadeiro protagonista parece ser Magneto. Esta é a história de como Erik Lehnsherr tornou-se um dos mais poderosos e carismáticos mutantes, um líder controverso mas com fortes convicções. Fora isso, em boa parte do primeiro ato ele é praticamente James Bond (ainda mais se levarmos em conta que temos os anos 60 como cenário). Ele interroga, invade, nada, luta e mata para conseguir informações e alcançar seu objetivo: eliminar um alvo específico. Michael Fassbender interpretou incrivelmente bem todas as nuances deste personagem que não é um herói, nem um vilão e nem mesmo um anti-herói.

Michael Fassbender fala sobre o aspecto 007:



Como sempre, X-Men usa os mutantes como metáfora para várias coisas que têm a ver com preconceito (de vários tipos) e aceitação. Mas, fora isso, aqui há nitidamente uma conotação homossexual na relação entre Xavier e Erik.

É bem sutil e, como falei, metafórica mas não pode ser ignorada. É a história de duas pessoas que achavam estar sozinhas e que encontram um par a altura na hora em que mais precisavam. E de como seus ideais divergentes e a maneira como cada um lida com a dor acaba levando-os a caminhos distintos. Assim, o filme todo fala sobre essa relação e, por consequência, de qualquer relacionamento humano.

Vale notar que o primeiro encontro deles no filme é bem diferente dos quadrinhos onde Xavier conhece Erik como um voluntário na clínica de Gabrielle Haller (outra sobrevivenete do Holocausto assim como Magneto). Mas, obviamente, tiveram que fazer algo mais dramático para o filme.




Mystique até que tem um certo arco emocional. Nada muito profundo mas pelo menos deram algo para a Jennifer Lawrence fazer (além de andar pelada coberta com tinta azul da cabeça aos pés). Poderiam ter explorado ou pelo menos ter introduzido a futura relação de Mystique com Azazel que, como os fãs sabem, resultará no nascimento de outro mutante notório: Nightcrawler.

Jennifer Lawrence (de cabelos escuros para The Hunger Games) fala sobre sua decisão em aceitar o papel de Mystique:



Outra entrevista com Jennifer Lawrence (com cara de bebê e um decote generoso):



Moira MacTaggert, nos quadrinhos, era uma cientista (escocesa) especializada em mutação genética que estudou junto com Xavier e desde então eles tiveram um relacionamento complicado (principalmente porque ela ainda estava oficialmente casada com Joseph MacTaggert). Esse negócio dela ser (norte-americana e) agente da CIA no filme me pareceu um pouco aleatório e uma maneira um tanto preguiçosa de fazer a trama andar. Mas poderia ter sido pior e Rose Byrne não é uma atriz ruim.

Rose Byrne fala sobre Moira MacTaggert:



Sebastian Shaw originalmente não tem nada a ver com os nazistas (pelo que me lembro). Nos quadrinhos ele simplesmente era um milionário que tornou-se um bilionário com influência na indústria armamentista estadunidense (principalmente uma companhia que depois viria a criar os Sentinels). Mas Kevin Bacon, apesar de muitas vezes parecer apenas um vilão daqueles que torce o bigode, até que se saiu bem porque... ele é o Kevin Bacon. E o Hellfire Club deveria ser um grupo dentro de um grupo com objetivos nefastos, não apenas um nightclub que serve como fachada. Oportunidade desperdiçada.

Kevin Bacon sobre Sebastian Shaw e seus planos:



Emma Frost (interpretada por January Jones) foi um dos poucos erros realmente lamentáveis do filme. Por mais irônico que possa parecer (por causa de suas roupas), a personagem deveria se destacar pela sua presença e personalidade, coisas que faltam a Jones. Tá certo que não deram muito material para ela trabalhar (suas cenas e falas não são, digamos, muito profundas) mas mesmo assim não foi uma escolha acertada. Ela fica o tempo todo com cara de "Tô de lingerie e já falei o que me pediu, agora dá meu cheque que eu vou embora".




January Jones fala sobre os poderes de Emma Frost:



Os outros personagens mal falam (os vilões praticamente não dizem sequer uma palavra) e estão lá mais para fazerem volume e para o filme ter mais cenas de ação. Fica claro em várias lutas individuais que foram escolhidos especificamente para isso mesmo.

Os uniformes (que podem ser vistos nos trailers) não são idênticos aos dos quadrinhos mas fazem alusão àqueles que a (verdadeira) equipe original vestia. Foi uma homenagem singela mas bacana.

Achei que poderiam ter usado mais elementos dos anos 60 (visuais, design, figurino, músicas etc). Se escolheram esse cenário em específico, por que não aproveitar? Sim, fazem alusão à guerra fria, mas não muito sobre as tensões sociais e todos os aspectos culturais.

Em suma, o filme é realmente divertido (para todos os públicos) e seus defeitos não chegam a atrapalhar.

Ah! Não há nenhuma cena após os créditos finais.

Trailers:






Rápida entrevista com o produtor Bryan Singer:



Entrevista com o elenco:



Entrevistas (alguns trechos repetidos) e cenas de bastidores:



Mais cenas de bastidores (a introdução em Alemão é curta):




[Atenção! A partir daqui há SPOILERS! Não leia adiante se ainda não assistiu ao filme. Esteja avisado.]

Ver Magneto com o uniforme mais fiel aos quadrinhos (mesmo que tenha sido só uma cena bem no final) quase valeu o preço do ingresso. Mas essa honra vai para a participação breve mas especial de Hugh Jackman como Wolverine numa cena hilária. E Rebecca Romijn como Mystique (por um instante) também foi uma boa (ótima!) surpresa. Fico feliz por ter evitado spoilers e ser surpreendido com essas aparições.

Quando Charles Xavier está usando o protótipo de Cerebro para procurar mutantes aparecem vários outros, a maioria ainda criança. Não consegui ver ou identificar todos mas acho que vi Ororo Munroe (Storm) e Scott Summers (Cyclops).

E é impressão minha ou William Stryker Jr também aparece no filme? Ou imaginei coisas? Bom, o pai dele é certeza que aparece (e o filho é pelo menos mencionado).

O potencial para sequências é óbvio. Mas como esta "primeira turma" não é exatamente aquela original dos quadrinhos, o que poderão fazer em seguida? Continuar com esta equipe de mutantes, sim, mas como a turma original das HQs poderá ser introduzida? Como os New Mutants? Seria uma saída. Mas aí o que aconteceria com os New Mutants dos quadrinhos? Serão os New New Mutants? Aliás, qual das encarnações da equipe?

Oh não... parece que os filmes da Marvel estão começando a sofrer do mesmo mal dos quadrinhos: o peso de uma continuidade cada vez mais complexa.

Será esse o sinal do começo do fim dos filmes de super-heróis?

Não perca a próxima "edição", true believer!

(Alguns dos atores falam sobre o que esperam dos arcos de seus personagens em possíveis sequências):

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