sexta-feira, 9 de junho de 2006

Bem vindo ao Dilema # 10 - 15/06/2012

SOU CARTUM E SOU FELIZ, É MAIS CARTUM QUEM ME DIZ! 

Cartum ou Cartoon ou ainda Cartune é um nome genérico para definir um tipo de traço humorístico, com ou sem texto e, normalmente, crítico. Mas isso falando de maneira bem superficial.

O impotante é que o termo surgiu juntamente com as caricaturas e as charges (nome que os franceses usam para cartuns críticos) e se espalhou com a invenção da imprensa.

Até então, quase tudo que era cartum tinha um teor de crítica política e social. Mas aí começaram a surgir artistas que faziam um humor mais livre, deixando de se basear nos acontecimentos e figurões da sociedade e da política e brincando apenas com situações ridículas e inusitadas. E aí, no meio disso tudo, foram inventadas as HQs e as tiras humorísticas.

E ainda mais tarde seria a vez de uma nova invenção, que encontrou na américa sua grande força: o desenho animado.

Durante todo este processo, estamos falando de materiais criados, pensados e produzidos para adultos, incluindo os primeiros desenhos animados e até mesmo as primeiras animações de um tal Walt Disney. Havia materiais infantis? Até havia, mas eram inexpressivos até então.

Logo, os animadores e, principalmente, seus financiadores perceberam que as crianças eram mais ávidas por consumir este tipo de experiência audio-visual que os adultos. E o mercado de animação passou a se focar muito nelas, mais e mais.

Neste ponto você, que é um leitor sagaz e inteligente, já deve ter percebido que, por suas características de traço e humor, as animações nada mais são que cartuns que “andam e falam”. Certo?

Certo.

Sendo assim, o termo cartum também foi aplicado ao traço usado nas animações, em sua maioria, estilizados. E foi aqui que a coisa se confundiu na cabeça das pessoas. Com os desenhos animados infantis ganhando cada vez mais força, principalmente na nova força produtora de entretenimento, os EUA, as pessoas começaram a associar a palavra cartum (e os traços estilizados) à “coisa de criança”. Pronto. Preconceito feito.

A partir daí, nesta parte do mundo (lê-se: Brasil e EUA), todo tipo de traço que carrega esta herança é taxado de infantil. E foi forjada a ideia errada que vincula desenho realista ao material adulto e cartum à material infantil.

Se você acompanha esta coluna, já sabe que não é o traço que define o público-alvo e sim o “conteúdo” da imagem. Sabe, né?

Então, o mesmo vale para essa relação entre adulto e infantil. Não interessa o traço, o que importa é o conteúdo.

Há vários exemplos disso. Pros dois lados.

Materiais como Os Simpsons, as tirinhas do Laerte ou o South Park são cartuns, com traços bem estilizados.

Clique aqui e veja alguns exemplos do que eu estou falando.

Todos os exemplos acima são de materiais feitos com o intuito de “atingir” o público adulto, sendo no humor mais besterol, sendo em questões de comunicação social.

Se estes mesmos exemplos fossem tirados de seus contextos e iseridos em outros, poderiam funcionar com as crianças tão eficientemente como funcionam com os adultos – muitos, aliás, apesar do teor, fazem sucesso com as crianças também.

Já na outra ponta do espectro, colocar um traço mais realista (ou com tratamento mais realista) num contexto infantil não invalida a arte junto ao seu público.

Clique aqui e veja exemplos do “outro lado da moeda”.

Todas essas imagens são de materiais infantis – apesar de alguns fazerem sucesso com marmanjos – e funcionam muito bem, obrigado. E veja que nem mesmo colocando um muleque real na imagem faz o Ben10 ficar mais adulto (o teor da foto do garoto é igual ao dos desenhos)!

O fato é que crianças aceitam bem um tratamento realista de arte da mesma maneira que adultos aceitam um traço mais estilizado com normalidade. Isso significa que não é obrigatório o uso de desenhos cartuns em materiais para crianças e nem realismo para adultos.

Muitas pessoas e até mesmo editores não entendem isso, que é o contexto que torna o desenho adulto ou infantil e não o contrário, e acabam deixando seus produtos mais pobres e limitados.

E tem uma coisa muito curiosa nisso tudo: Na europa e na ásia, de maneira geral, não há este tipo de pensamento retrógrado. E como consequência disso estas regiões têm um mercado editorial (de livros e revistas) e de quadrinhos (e de animação!) mais rico e variado que o nosso.

Agora convenhamos, já está na hora das editoras, empresas de marketing e publicidade, o governo e o povo brasileiro perceber o quanto estão perdendo quando se prendem a ideias descabidas como esta. Até mesmo o mercado americano, que também sofre desse mal, é menos “míope” que o nosso.

Sorte deles. Azar o nosso. Nós é que saímos perdendo.

É isso.

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