quarta-feira, 13 de outubro de 2004
Condição Crítica - Texto # 05 por Alexandre Maki - 07/12/2011
Submarine é uma comédia-drama (co-produzida por Reino Unido e EUA) que adapta o romance homônimo de Joe Dunthorne. Mas eu não sabia disso pois este foi mais um filme que procurei assistir sabendo o mínimo possível. Só descobri que era uma adaptação nos créditos finais. Mesmo assim não foi difícil desconfiar de suas origens pois a narração em primeira pessoa e a estrutura da trama separada em partes realmente lembram um livro. Esta é uma típica história de adolescência e amadurecimento mas a diferença está na maneira como ela é contada e na peculiaridade de seus personagens. Lembra um pouco os filmes do Wes Anderson na narrativa, edição e alguns ângulos mas há divergências o suficiente para ter personalidade própria. Os metacomentários e certo sarcasmo ao usar descaradamente alguns clichés da linguagem do cinema comercial (principalmente dos filmes ditos românticos) parecem ser apenas um recurso cômico mas na verdade servem mesmo ao drama. Não falarei muito para não estragar nenhuma surpresa mas é muito interessante a forma como o roteiro, a direção e a edição utilizam isso para brincar com as expectativas do público. O tom meio sépia, a trilha sonora (muito boa, feita pelo Alex Turner dos Arctic Monkeys) e a presença de "antiguidades" como fitas cassette e VHS situam a história no passado. Isto tem um efeito quase subliminar relevante pois aumenta o clima de nostalgia que é importante para o impacto emocional da trama. A metáfora sobre submarino (que dá título ao filme) é explicitamente explicada logo no primeiro terço do filme. Isso é um tanto incomum mas é mais uma prova de que o sarcasmo a respeito do cinema (ou do entretenimento popular em geral) embora não seja o foco principal é um tema recorrente aqui. Mas há metáforas mais sutis que, quando analisadas, são bem profundas. [A partir daqui pode haver spoilers! Se não quer saber absolutamente nada de antemão e prefere tirar suas próprias conclusões e interpretações, não leia adiante sem ter assistido ao filme.] Oliver mora num lugar distante, de difícil acesso, isolado... assim como ele. Mas uma garota, por mais improvável que seja, dispõe-se a ir até lá. Quando saem, eles sempre vão a lugares desolados. Em meio ao caos e abandono é onde se encontram. Não dizem nada, praticamente não conversam, mas pelo menos parecem estar juntos em meio a solidão e desolação. A principal metáfora é a água. Ela simboliza a depressão e a barreira emocional entre as pessoas. O pai sabe a profundidade do oceano (ou seja, o quanto esta barreira é intransponível e os efeitos da depressão) e depois o filho descobre também. Somente quando isto acontece é que ele finalmente amadurece de verdade. No final, Jordana entra cada vez mais no mar para ver até onde Oliver irá segui-la. Ela dá um passo adiante, ele vai até ela. Mais um passo, ele segue. Isso simboliza que ele estará sempre com ela mesmo nos piores momentos, mesmo que a barreira emocional tente separá-los e a depressão tente afogá-los. Não importa o quanto estejam perdidos em meio a essas águas escuras, eles pelo menos estarão juntos no mesmo submarino. Assista até o último momento dos créditos finais pois há algo sutil mas muito interessante que no primeiro momento eu não entendi. O fundo é todo azul e nos últimos segundos vai ficando cada vez mais escuro até ficar completamente negro (como é comum em todos os filmes). É como se estivéssemos submergindo cada vez mais fundo no oceano! Ou é apenas paranóia minha... Mas posso dizer sem sombra de dúvidas que Submarine entrou para a minha lista de filmes favoritos. Daqueles que você de novo e de novo e a cada vez percebe algo diferente. Agora preciso ler o livro.
Trailer (cheio de spoilers):
Outro trailer (um pouco melhor mas que ainda tem spoilers):
Entrevista com o diretor Richard Ayoade:
Outra entrevista (meio ruim) com o diretor Richard Ayoade:
Breves entrevistas no tapete vermelho da estréia:
Entrevista (em várias partes) com Craig Roberts e Yasmin Page:
Este comercial da trilha sonora de Alex Turner na verdade é como um clip para a canção "Piledriver Waltz" e parece-me que contém algumas pequenas cenas que não estão no filme (ou versões mais longas daquelas que estão). Assista ao vídeo e entenderá:
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