quarta-feira, 13 de dezembro de 2000

Condição Crítica - Texto # 03 por Alexandre Maki - 13/07/2011


Trilogia dos Mortos de George A. Romero

George A. Romero é considerado o pai dos filmes de zumbis apesar desse subgênero existir muito antes dele. Alguns dizem que o primeiro foi White Zombie (1932) ou que o monstro de Frankenstein é um zumbi (por ser um cadáver reanimado).
Mas ainda assim Romero é pelo menos responsável pelo conceito de zumbi que temos hoje. A não ser o aspecto de que eles têm apetite por cérebros humanos, isso vem de Return of the Living Dead (1985) de John Russo. Os zumbis de Romero comem qualquer parte anatômica.
Os video games (principalmente a série Resident Evil), quadrinhos (The Walking Dead de Robert Kirkman), séries de tv (The Walking Dead, baseada nos quadrinhos), literatura (World War Z: An Oral History of the Zombie War de Max Brooks) e por que não a música (Thriller de Michael Jackson) ajudaram a perpetuar esta imagem dos zumbis de George A. Romero.
Mesmo assim ainda há muita gente que não sabe como tudo isso começou, que nunca viu a Trilogia dos Mortos original. Se você se interessa por esse subgênero, por horror ou mesmo pela história do cinema (e da cultura pop) precisa ver esses filmes. Se possível de uma vez só durante uma única madrugada.

Night of the Living Dead (1968)

[Você pode assistir ao filme completo no YouTube.]
Não está tão datado quanto eu imaginava. Aliás, o fato de ter sido filmado em preto e branco lhe dá um charme todo especial.
O roteiro com metáforas a conflitos raciais e sociais reflete bem o sentimento da época. O próprio Romero chegou a comentar posteriormente que o tema principal que tinha em mente ao criar o filme era revolução.
Mas o que ele realmente conseguiu revolucionar foram os filmes de horror. Até então a maioria deles eram quase juvenis e cenas de violência nunca eram tão explícitas. Romero deve ter chocado muito gente, ainda mais que o código de classificação etária (censura) só entrou em vigor nos EUA um mês depois. Assim, até mesmo crianças pequenas conseguiram ver o filme (que inicialmente era, inclusive, apresentado em matinês).
Já haviam outros filmes com zumbis antes mas eram diferentes deste (geralmente cadáveres reanimados por voodoo). E apesar da idéia inicial ter sido inspirada pelo livro I Am Legend de Richard Matheson, Romero acabou criando algo totalmente novo que deu origem a todo um subgênero.
Alguns dizem que os zumbis do filme representam o capitalismo e como ele causa opressão em termos sociais e econômicos. Mas esse aspecto seria abordado mais enfaticamente no filme seguinte.

Em 1990 Night of the Living Dead ganhou um remake dirigido por Tom Savini (responsável pela maquiagem de vários filmes de Romero) e até que não é tão ruim. Um segundo remake foi lançado em 2006 mas eu nem quis ver.

Dawn of the Dead (1978)

Logo no começo as críticas sócio-econômicas e questões raciais são mostradas claramente, sem muita sutileza. E colocar a maior parte da ação dentro de um shopping também remete à crítica ao consumismo. Os zumbis perambulando debilmente pelos corredores não deixam nenhuma dúvida.
Aos poucos os personagens transformam o ambiente em que estão num microcosmo que faz alusão ao "american way", à vida suburbana e sua futilidade. Suas vidas passam a ser tão vazias quanto a dos próprios monstros que tentam devorá-los.
Mas os zumbis aqui são muito mais lentos e estúpidos do que eram antes, talvez até um pouco demais. Assim não oferecem nenhuma ameaça e o horror não tem o mesmo impacto. Resta apenas a crítica social.
A verdadeira ameaça só vem no terceiro ato: outros seres humanos que querem tomar para si o que é dos outros. Mas qualé a diferença entre eles e os protagonistas? Na verdade não importa porque, mesmo nessa hora, a questão ainda continua sendo o consumismo sem sentido.
Os efeitos visuais e a maquiagem são ridículos para os padrões de hoje. Porém, se relevar isso, vai entender por que este é considerado um dos filmes de zumbi mais primordiais. Uns dizem que talvez seja até o melhor de todos os tempos mas aí acho que é só a nostalgia (e ninguém assistiu a todos os filmes de zumbi de todos os tempos para fazer tal alegação).

Em 2004 Dawn of the Dead ganhou uma nova versão dirigida pelo então estreante Zack Snyder. O filme causou certa controvérsia entre os fãs por apresentar zumbis rápidos (possivelmente influência de 28 Days Later). Mas é bem divertido, traz coisas novas interessantes e diverge o suficiente para ter uma identidade própria.

Day of the Dead (1985)

O ápice das críticas sociais foi alcançado com o filme anterior por isso há a tentativa de variar um pouco os temas aqui. O próprio Romero disse que esta história lida com a falta de comunicação entre as pessoas e como isso pode levar à danação da sociedade (em qualquer nível ou escala). Mas passar 102 minutos assistindo a personagens desprezíveis discutindo entre si não é exatamente divertido.
Sem nenhum personagem com quem se importar fica mais difícil se envolver com o que acontece. As "experiências" realizadas com zumbis em cativeiro parecem refletir (não intencionalmente) o que Romero e a equipe faziam com o próprio filme: tentar controlar o (próprio subgênero) que haviam criado mas sem saber exatamente o que fazer e sem chegar a um resultado satisfatório. Talvez o filme tenha sido ambicioso demais e assim perdeu-se o foco.
Dentro da trilogia original, este foi o menos interessante.

Day of the Dead também foi refeito (em 2008) numa versão dirigida por Steve Miner. Mas todos falam tão mal que nem fiquei com vontade de assistir.


Todos estes filmes estão nitidamente datados. Mas é impossível não reconhecer sua inovação, pioneirismo e influência na cultura pop. Assim como o papel fundamental de George A. Romero nisso tudo.

Entrevistas:



Time Magazine: 10 Questions for George Romero

Vanity Fair: George A. Romero - "Who Says Zombies Eat Brains?"

NPR: Director George Romero Plays 'Not My Job'

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