quarta-feira, 11 de julho de 2007

CONDIÇÃO CRÍTICA (Another Earth - 2011) por ALEXANDRE MAKI

Another Earth (2011)


Another Earth é um drama de ficção científica de orçamento relativamente baixo (menos de US$200.000) lançado no Sundance Film Festival de 2011 onde venceu o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio Alfred P. Sloan. Na verdade, a ficção científica aqui é apenas uma ferramenta para abordar alguns temas de forma metafórica. Mais uma vez, este é o tipo de filme sobre o qual é melhor não saber nada antes de assistir. Até mesmo o trailer ou sinopses contém spoilers. Por isso, se você interessa-se por dramas imaginativos e especulativos ou por ficção científica mais introspectiva e filosófica, simplesmente assista ao filme sem procurar saber muito sobre ele. [A partir daqui pode haver spoilers! Procurarei evitá-los mas... esteja avisado.] No início é um pouco difícil saber exatamente quem é a protagonista, o que ela quer e por quê. Bem, ela busca redenção (por motivos óbvios) mas isso em si não parece uma boa motivação para a trama porque a introdução mostra tudo (ela, o acidente, seu retorno ao mundo) de forma muito rápida. E deveriam, por exemplo, ter estabelecido desde o início o seu interesse por astronomia e ficção científica. Coisas que, aliás, acabam nem sendo relevantes mais à frente e poderiam ter sido melhor aproveitados na trama. O ritmo é um pouco lento demais principalmente no começo. A partir do segundo ato o ritmo vagaroso até é apropriado pois tudo adquire uma natureza mais reflexiva. Aliás, este é o grande trunfo do filme: o conceito, a trama e mesmo os personagens não importam tanto. O mais relevante são as perguntas que o filme faz, ou melhor, as perguntas que o espectador acaba fazendo a si mesmo como: "Se você pudesse falar consigo mesmo, o que diria?". Algumas metáforas são bem óbvias. A casa do músico reflete seu estado emocional: muita sujeira e abandono. O fato da protagonista arrumar e limpar o lugar é uma tentativa dela "arrumar e limpar" a vida dele. Ao mexer em tudo é como se ela estivesse explorando o subconsciente seu subconsciente. Mas esta é também uma auto-exploração, uma busca pessoal interna que faz com que ela pergunte-se e, por sua vez, faz o espectador perguntar-se: "Se pudesse falar consigo mesmo, você perdoaria-se?". Todo mundo já fez algo do qual se arrepende ou, no mínimo, pensa no que poderia ter acontecido se tivesse tomado esta decisão ao invés daquela em algum momento da vida. Por isso é muito fácil identificar-se com os temas da trama e projetar nela suas próprias emoções. A parte científica é um pouco falha porque um outro planeta tão próximo ao nosso causaria um grande distúbio gravitacional, anomalias nas marés e atmosfera. Fora que se a Outra Terra é igual à nossa, haveria uma infinidade de sinais (de rádio, tv etc) vindo de lá há muito tempo e, portanto, aquela primeira conversa entre as diretoras do SETI não seria o primeiro contato. Claro que essa coisa toda sobre a Outra Terra é apenas uma ferramenta narrativa. É uma metáfora sobre as decisões que tomamos e como elas influenciam o rumo de nossas vidas. Também é a possibilidade de uma nova vida, uma vida melhor do que a que vivemos agora. Portanto, é mais conveniente relevar o aspecto científico e concentrar-se na parte dramática e filosófica. Apesar de alguns possíveis furos na trama, Another Earth é um filme muito interessante pois ele não dá respostas, ele te induz a fazer as mesmas perguntas a si mesmo. E estas indagações continuarão com você durante algum tempo mesmo depois dos créditos finais. Este é mais um filme independente que vale a pena ser conferido.  Trailer:   Featurette: Entrevista com a protagonista, co-roteirista e co-produtora Brit Marling: Outra entrevista com Brit Marling: Entrevista com o diretor, co-roteirista e co-produtor Mike Cahill: Entrevista com William Mapother:

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