MONEY FOR NOTHING
Imagine a seguinte historinha:
Uma mulher entra em uma loja de DVDs, pega um filme com uma etiqueta marcando R$ 19,90.
Ela vai ao balcão e diz ao atendente que pretende comprar a película.
Uma mulher entra em uma loja de DVDs, pega um filme com uma etiqueta marcando R$ 19,90.
Ela vai ao balcão e diz ao atendente que pretende comprar a película.
O rapaz de pronto responde:
- Pois não. São R$ 19,90.
- Mas eu só vou pagar R$ 8,00 – afirma a moçoila.
- A senhora não entendeu – explica o atencioso rapaz. O DVD custa R$ 19,90.
- Eu sei, mas só vou pagar R$ 8,00 por ele – insiste a madame.
- Como?
- Olha – continua a senhorita –, o filme é bom, eu gosto muito dele e também gosto do atendimento da loja, mas só quero pagar R$ 8,00 por isso.
- Pois não. São R$ 19,90.
- Mas eu só vou pagar R$ 8,00 – afirma a moçoila.
- A senhora não entendeu – explica o atencioso rapaz. O DVD custa R$ 19,90.
- Eu sei, mas só vou pagar R$ 8,00 por ele – insiste a madame.
- Como?
- Olha – continua a senhorita –, o filme é bom, eu gosto muito dele e também gosto do atendimento da loja, mas só quero pagar R$ 8,00 por isso.
Toda essa situação lhe pareceu meio estranha?
Como pode, a cliente, querer definir quanto custa o DVD? Ela
não conhece todos os encargos e custos envolvendo a produção, distribuição e
venda de um DVD, mas mesmo assim quer definir o valor a ser pago por ele.
Por mais controversas que possam existir a cerca do preço de
um DVD, o mercado não funciona assim. Quem produz é quem diz quanto custa. O
consumidor compra se quer. Ele pode até questionar o valor atribuído, mas não
pode definir isso.
É assim em quase tudo por aí: do dentista ao técnico de
máquina de lavar. São os fornecedores que dizem quanto seu produto ou serviço
custa.
Já na vida de um ilustrador, a situação da hipotética
lojinha de DVD de nossa historinha é uma realidade bastante comum (e tem até
piores!).
O fato irrefutável é que o ilustrador é quem deve saber
quanto custa o seu trabalho. Ele é a única pessoa que pode determinar o valor do
serviço que está prestando.
E isso não é simples. A dúvida é recorrente entre os aspirantes
a ilustrador: quanto cobrar?
É tão comum essa questão que a internet está repleta de
“respostas” pra ela.
Vários sites e blogs já publicaram tabelas de preços,
fórmulas matemáticas, piso salariais... mas isso parece confundir ainda mais as
pessoas por aí.
Tabelas de preço não são viáveis. Há muitas variáveis que
podem envolver um trabalho e o mais comum de acontecer é a tal tabela se tornar
inaplicável e acabar não servindo nem como referência.
As fórmulas [tempo
gasto + consumo de energia elétrica + diarista que limpa o estúdio = orçamento
] não só deixam de fora uma série de outras questões envolvidas como também são
muito complicadas - como eu faço pra calcular a energia elétrica usada na
execução de um trabalho?!?
E o “Piso salarial” então? Não mesmo!
No Brasil, “vida de ilustrador” é quase sinônimo de freelance. São poucos os
lugares onde se é contratado, com carteira assinada e salário regular no fim do
mês... logo, falar em base salarial é utopia...
A verdade é que não há como definir um valor exato para uma
ilustração. Assim, todas as opções acabam sendo apenas aproximações do que pode
acontecer na realidade.
No mundo real, o ilustrador deve levar em consideração a
complexidade de uma arte, seu uso, quem está comprando, a técnica e estilos
envolvidos... muita coisa pra pensar.
É por todos esses “poréns” que somente o próprio ilustrador
é quem pode definir o quanto cobrar.
E não adianta. Ninguém responderá isso por você.
Mas calma... Não será nada fácil e muito menos simples, mas
eu vou tentar ajudar!
Só não espere encontrar resposta pronta no texto abaixo...
Feito de quê?
Não é o mais importante, mas o material usado para produzir a ilustração faz diferença no orçamento.
Não é o mais importante, mas o material usado para produzir a ilustração faz diferença no orçamento.
Mas não faz diferença pelo custo do material em si (o preço
do papel, do pincel, da tinta...). Isso é um custo que fica embutido em uma
série de trabalhos ao longo do tempo. Fará diferença pelo tempo e prática
necessários para utilizar tais materiais.
É muito mais trabalhoso e demorado pintar com aquarela do
que pintar no photoshop (sem desmerecer a cor digital), além de todos os anos
de prática necessários pra dominar aquela tinta do inferno... Logo, se o
cliente quer aquarela, tem que pagar mais por isso.
Pra quê, onde e até
quando?
Mas, como disse, o material não é o mais importante.
Mas, como disse, o material não é o mais importante.
A maioria das pessoas não entende bem isso, mas um
ilustrador não vende uma folha de papel com algo desenhado nele. Ele vende um
símbolo, um elemento mais subjetivo, com as mais diversas aplicações.
Como não é um produto físico – sim, ilustração é um produto intelectual – seu
valor tem mais a ver com “para o quê” e “onde” ele será usado. E mais: tem a
ver com “por quanto tempo” também.
Um personagem que será usado por tempo indeterminado ou de
maneira “vitalícia” tem que ser mais caro do que um personagem que será usado
por um período mais curto de tempo.
Exemplo: Imaginem ilustrar um personagem que é um coelho e que
será usado numa campanha de páscoa.
Serão apenas dois meses de uso específico
em uma campanha publicitária (depois disso, os direitos voltam para o autor, que
poderá comercializar esta imagem como quiser). Isso acarretará em um valor X, que
seria maior caso o personagem fosse comprado para uso por tempo indeterminado
(se fosse se tornar a mascote oficial da empresa de chocolate, por exemplo).
Isso me dá uma base de cálculo para começar e me permite verificar
outro ponto muito importante:
É de vender?
Essa é bem difícil de calcular e do cliente entender... ainda usando o exemplo do coelho, um personagem bem feito e bem aplicado, para uma marca famosa, num período de alto consumo como a Páscoa, vai muito provavelmente gerar um retorno financeiro considerável ao comprador da arte. Logo, eu tenho que cobrar proporcionalmente a este lucro presumido, ou estarei perdendo dinheiro.
Essa é bem difícil de calcular e do cliente entender... ainda usando o exemplo do coelho, um personagem bem feito e bem aplicado, para uma marca famosa, num período de alto consumo como a Páscoa, vai muito provavelmente gerar um retorno financeiro considerável ao comprador da arte. Logo, eu tenho que cobrar proporcionalmente a este lucro presumido, ou estarei perdendo dinheiro.
Ilustrações promocionais, que são usados para merchandising
(principalmente personagens), tem maior potencial de lucro (podem dar mais retorno
financeiro aos seus donos) do que as artes feitas para didáticos ou similares.
Voltando ao coelhinho da páscoa, se ao invés de uma campanha
publicitária ele for utilizado em uma campanha de divulgação do trabalho de uma
ONG, seu valor agregado cai porque não há potencial de lucro.
Tamanho não é
documento!
Cenário de uma cidade cheia de pessoas estilo “Onde Está Wally?” ou apenas um personagem sozinho, em fundo branco? Esta é um pergunta muito importante! Em outras palavras: será um desenho complexo (a cidade) ou um desenho simples (o personagem)?
Cenário de uma cidade cheia de pessoas estilo “Onde Está Wally?” ou apenas um personagem sozinho, em fundo branco? Esta é um pergunta muito importante! Em outras palavras: será um desenho complexo (a cidade) ou um desenho simples (o personagem)?
Um desenho complexo é um “desenho complexo”,
independentemente das proporções usadas. A ilustração da cidade grande cheia de
gente estilo “Onde Está Wally?” é bem mais complicada de ser feita do que um
desenho de um personagem em fundo branco. Tanto faz se ela ocupa uma página
inteira ou é apenas uma vinheta!
Sendo assim, usar princípios como “uma ilustração de página
inteira”, por exemplo, não diz nada sobre o trabalho. Não dá pra atribuir um
valor baseado nisso - e é justamente aqui onde pecam as tabelas de preço
internet a fora: elas determinam os valores com base nos tamanhos das artes,
não em seu conteúdo!
O valor deve ser proporcional à complexidade da imagem e não
ao seu tamanho.
Dois pesos e duas
medidas
Numa olhada rápida pode até parecer errado, mas o ilustrador deve cobrar conforme o cliente.
Numa olhada rápida pode até parecer errado, mas o ilustrador deve cobrar conforme o cliente.
Como não é um bem material (lembra?), é fato que uma empresa
maior tem mais a faturar com uma ilustração do que um cliente pequeno.
Não dá pra cobrar de uma pequena editora regional o mesmo
que você cobraria de uma mega empresa multinacional. E vice-versa.
Mas é preciso ter bom-senso aqui: Também não é pra esfolar
os cofres da multinacional para fazer um ícone minimalista ou fazer 200
desenhos praticamente de graça para a editora regional! O ilustrador tem que
discernir bem a diferenciação entre as empresas e entre as propostas de
trabalho.
Quanto custa a hora,
querida?
Como tempo é dinheiro, o ilustrador precisa ter uma ideia muito certa de quanto tempo leva para fazer determinada ilustração com técnica X ou Y.
Como tempo é dinheiro, o ilustrador precisa ter uma ideia muito certa de quanto tempo leva para fazer determinada ilustração com técnica X ou Y.
Isso, além de ser imprescindível para se definir o prazo de
trabalho, é muito importante na hora de botar um preço no que se faz.
Imagine dois ilustradores recebendo um trabalho idêntico.
Ambos vão receber R$ 200,00 para fazer um mesmo desenho, cada um à sua maneira.
O ilustrador “A” faz a ilustra em um dia. Isso lhe vale R$
200,00.
Já o ilustrador “B” leva 10 dias pra fazer a mesma coisa. Nesse
caso, seus dias valeram R$ 20,00 cada.
Parece besta porque, afinal, na conta corrente dos dois terá
os mesmos R$ 200,00... parece, mas não é besta não.
O ilustrador “A”, nos mesmos 10 dias, poderia fazer 10
ilustras de R$ 200,00 e faturar R$ 2.000,00 enquanto o “B” continuaria com
apenas R$ 200,00.
Mas agora, imagine que o ilustrador “A” faz tudo em uma técnica
mais rápida, enquanto o “B” trabalha com técnicas que exigem mais tempo e, por
isso, mais é lento.
Pela lógica, “B” deveria cobrar mais pela ilustração.
Claro, na teoria tudo é lindo! Mas aqui eu tenho que fazer
uma rápida ressalva: O mercado não funciona exatamente assim... no mundo real,
o contratante põe “A” e “B” no mesmo balaio e não liga para a técnica mais demorada
usada por “B”.
Injusto, eu sei. Mas aí o problema é com a cabeça de quem
paga pela ilustração...
Voltando aos ilustradores: com o tempo – e só com o tempo –,
cada um começa saber quanto “custa” sua hora de trabalho e assim presumir
quanto cobrar.
Quem é você?
A experiência de um desenhista conta. E muito!
A experiência de um desenhista conta. E muito!
Um desenhista experiente, via de regra, resolve melhor e
mais rápido uma ilustração do que um iniciante.
Além disso, o ilustrador com
know-how tem mais a acrescentar em ideia e, em alguns casos, apenas o nome dele
já agrega valor ao material junto do público.
Sendo assim, é normal que alguém de renome cobre mais.
Logo, se você começou ontem no mercado de trabalho, caia na
real e não ache que vai receber como se fosse o Ziraldo!
E se já vem pago?
Outra verdade sobre a realidade: Não será em todo trabalho que o ilustrador definirá o preço. É bem comum por aí que o cliente já traga uma cifra junto do pedido de ilustração.
Outra verdade sobre a realidade: Não será em todo trabalho que o ilustrador definirá o preço. É bem comum por aí que o cliente já traga uma cifra junto do pedido de ilustração.
Isso não significa que você não deva pensar em tudo isso...
Faça a mesma “matemática” e avalie se o valor oferecido pelo potencial cliente
vale ou não o trabalho.
E caso a resposta seja negativa, faça uma contraproposta. Barganhe
a seu favor. Às vezes pode dar certo.
Quanto vale o show?
Por fim, leve em consideração outros fatores além dos que estão descritos acima:
Por fim, leve em consideração outros fatores além dos que estão descritos acima:
O trabalho pode me render o que mais além de dinheiro?
Pode me render mais trabalhos futuros?
Meu nome poderá ficar conhecido em algum outro nicho que me interessa?
O trabalho exige uma experiência que eu ainda não tenho e vale a pena ter?
Ou seja, você pode levar em consideração estas questões mais
subjetivas. Mas cuidado: é você quem define isso, não o cliente!
Complicado esse lance de preço, não?
Mas eu avisei! Disse lá no começo do texto que não seria
fácil... tanto que tem muito ilustrador experiente por aí que ainda fica
inseguro na hora de fazer um orçamento.
Mas não se assuste, pense bem em tudo o que você leu aqui e
desenvolva seu bom-senso. Ele será seu melhor aliado nessa hora.
É isso.
É isso.
No fim não entendi como faço pra cobrar um desenho.
ResponderExcluirMuito bom o artigo, mostra que experiência é tudo.
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